terça-feira, 22 de julho de 2014

Déjà vu


As luzes das viaturas parecem transformar a noite numa enorme festa.  Policiais isolam o local e os flashes dos repórteres só não são mais irritantes que o emaranhando de vozes perguntando o que aconteceu. Uma ambulância está parada ao meu lado quando um policial se dirige na direção de um garoto sentado num batente e  isolado dos jornalistas e curiosos que passavam por ali.

 _ Boa noite, sou o policial  James   e queira saber como você está _ Sua voz é calma passando um ar de segurança, seu uniforme idem. Seu semblante inspira confiança e seriedade.

Uma suave neblina começa a cair,  o garoto está assustado e com seus  olhos cansados de chorar como se não houvesse mais lágrimas, agitados buscando algo ou alguém. O  policial está agachado na sua frente mas parece que não há ninguém na sua frente, como se procurasse por algo escondido na escuridão da noite.


_ Bruce ? E o seu nome certo ? Quer conversar um pouco sobre o que aconteceu ?  Isso vai ajudar a lhe acalmar um pouco, sempre funciona comigo.



Bruce então ao ouvir seu nome olha para o policial analisando se poderia confiar nele, alguns segundos depois solta os ombros como se o semblante e tom apaziguador em sua voz o acalmasse.

_ Eu não tive culpa! Eu juro! _ Em meio a juras ele encara com espanto no olhar como se tivesse voltando de um filme de terror.

_ Calma Bruce! Você não é culpado de nada.  Apenas me conte o que houve, preciso que você me dê detalhes.

O garoto baixa sua cabeça, parece cansado ou ao menos demonstra estar mentalmente acabado,  respira fundo para em seguida soltar o ar que forma aquela imagem de fumaça que os dias frios causam em nossa expiração para então inicias seu relato.

_ Eu e meus pais estávamos saindo do teatro, tínhamos ido assistir um espetáculo do Zorro. Quando terminou resolvemos pegar um atalho para chegarmos até o carro.  Eu vinha correndo e saltando como se lutasse com os vilões da peça quando ele surgiu do nada com seu olhar ameaçador.

_ Ele quem Bruce ?

_ Aquele homem enorme e assustador, ele disse algo para meus pais que fez minha mãe gritar com medo, eu não consegui entender mas quando ele avançou contra minha mãe meu pai tomou a frente, só ouvi dois sons de pancadas e quando olhei meus pais estavam desmaiados no chão, foi tudo muito rápido.  Eu não tive culpa...

_ Bruce não se preocupe, você não teve culpa de nada e todos aqui sabem disso.  Conte-me o que aconteceu em seguida.



_Meus pais estavam caídos no chão e não se machiam enquanto aquele homem estava se agachando em direção a eles.  Sua boca continuava falando algo, não, ele não falava ele rosnava e era por isso que não entendia nada foi aí que eu gritei, gritei como nunca havia gritado e isso fez ele se virar para mim.

Os olhos do garoto estavam olhando para um vazio, parecia estar em transe, revendo uma cena aterrorizante mas continuava a falar o que havia se passado.

_ Continue Bruce, você está se saindo muito bem!

_ Quando se virou para mim, ergueu-se, nunca havia visto um homem tão grande e seu rosto era como o de um um monstro, sua boca com vários dentes, sua pele parecia a de um dragão, seus olhos pareciam de uma cobra. Parecia com uma homem que tinha num circo que parecia um lagarto.



O policial parece não acreditar, mas continua anotando com um sorriso disfarçado.

_Então quando ele chegou perto de mim e vi sua boca salivando  ouvi o som de asas, pareciam asas gigantescas e quando olhei para o alto eu vi um morcego enorme pousar entre nós dois, ele me envolveu em suas asas e  saltou trás ficando longe daquele homem mau.

_ Um morcego gigante Bruce ? Tem certeza ?





_Eu estou dizendo a verdade! Por que ninguém acredita em mim ?!?! _ O garoto parecia impaciente, já havia contado partes daquela história várias vezes.

_Calma Bruce, eu apenas quero que você seja o mais claro possível. Nunca vi nada do que você está me contando mas iremos encontrar esses "monstros", continue.

O policial já não parece mais crer na história do garoto, mas continua anotando seu depoimento.

_O monstro então gritou de ódio e o som era apavorante! O morcego me colocou atrás dele e se agachou, suas asas se espalharam pelo chão e quando o monstro correu pra cima da gente com seus braços erguidos e suas garras enormes o morcego pareceu ter feito uma mágica, uma poeira brilhante saiu de baixo de suas mãos que deixou o monstro sem direção.  Ele atacava tudo ao seu redor como se estivesse cego e isso o deixava mais enfurecido.

O policial simula uma tosse enquanto esconde o sorriso com a mão.

_ Sem enxergar nada o  monstro estava indo na direção dos meus pais enquanto golpeava tudo que estava ao alcance de suas garras, a cada golpe ele chegava mas perto da minha mãe e do meu pai.  Aquilo me enlouqueceu e eu corri para salva-la o monstro então se virou para mim e quando estava para me golpear o morcego saltou por cima e suas asas  se abriram por completo e escureceram o céu sobre mim e vi apenas ele encostou suas garras negras no corpo do monstro e um raio saiu de suas mãos negras que fez o monstro cair no chão para logo em seguida sair correndo atordoado derrubando tudo pela frente, o morcego então caminhou até mim, suas asas arrastavam no chão, era como se ele e a escuridão fossem um só, eu estava com medo e sua presença parecia ser mais aterradora que o monstro que quase matou me matou.  Ele então se abaixou até ficarmos com os rostos frente a frente e eu vi que escorria algo no seu rosto, ele parecia sério mas eu sei que havia dor dentro dele ele então sussurrou algo para mim.

_ O que ele disse Bruce ?

A mente do garoto volta para o passado de alguns minutos atrás e seu semblante muda.
_ Ele disse "Calma , você não precisa passar pelo que eu passei".

_ Só isso ?

_Sim e quando olhei ele saltou alto e suas asas escuras se abriram.

O policial parece desapontado mas sente que fez o seu trabalho e então orienta o garoto.

_Bem, acho que é isso é o bastante Bruce.  Seus pais estão na ambulância sendo atendidos mas passam bem, apenas alguns arranhões e hematomas e acho seria bom você ir lá vê-los.

O garoto não diz nada e num instante se vê correndo em direção ao local onde os pais se encontram enquanto o policial arranca a folha de anotações do seu caderno, amassa e joga fora.

_ Luta de monstro contra um morcego gigante. Malditos vídeo games!

O rádio na cintura do policial então interrompe seus pensamentos com o ruído característico do aparelho.

_Central para todos os policiais nas redondezas dos Beco do Crime! Ocorrência na  Quinta Avenida por trás do beco,  na lateral da igreja uma criatura está amarrada no poste, levem suas armas de choque, pois pelos relatos, vocês não vão acreditar, mas parece um homem crocodilo gigante!

_ Ok Central, unidade 486 se dirigindo para o local assim que encontrar meu escudo de pele de dragão e minha espada forjada nas cinzas de uma fênix. Câmbio e desligo!  Cidade de malucos!




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